Sobre o prêmio

Precisamos formar indivíduos fortes. O indivíduo forte é aquele que resiste, e o faz exatamente como Homem, palavra que precisa urgentemente voltar à moda. O indivíduo forte é aquele que, diante da iniquidade, do erro ou do vazio, se levanta. Ele pode levantar-se silencioso. Não é necessário gritar, gesticular ou jogar pedras. O indispensável é ter consciência do que cada um é. O indivíduo forte é aquele que diante do futuro é capaz de escolher por si mesmo. Ele elabora a sua visão de mundo, de seu próprio país, do seu lugar, da sociedade, a visão dele próprio como ser atuante. É esta a fortaleza do Homem e a base da cidadania.

(Milton Santos, A técnica em nossos dias – a instrução e a educação. ABMES Cadernos, 1998.)

Milton de Almeida dos Santos, graduado em Direito e pós-graduado em Geografia, deixou vasta obra que revolucionou não apenas a Geografia como também as Ciências Humanas e Sociais. Com sua genial conceituação do espaço geográfico, Milton Santos abordou, como ninguém, a problemática da urbanização no Terceiro Mundo, a teoria e a metodologias geográficas, temas sobre os quais publicou mais de quarenta livros e cerca de 300 artigos, traduzidos para o espanhol, francês, inglês e japonês. Ensinou em diversas universidades na Europa, África, América do Sul e América do Norte.

Milton Santos nasceu em Brotas de Macaúbas/BA, no dia 3 de maio de 1926, e faleceu em São Paulo no dia 24 de junho de 2001. Migrou ainda criança para outras cidades baianas como Ubaituba, Alcobaça e, posteriormente, Salvador. Em Alcobaça, com seus pais e com seus avós maternos (todos professores primários), aprendeu as primeiras letras e o gosto pela álgebra, pelo francês e algo que não se ensina mais: as boas maneiras. Sendo “forte em matemática”, já aos 13 anos, dava aulas no Instituto Baiano de Ensino, escola em que estudava, fato que atesta a sua inclinação precoce para o magistério. Aos 15 anos, passou a lecionar Geografia e, aos 18, prestou vestibular para Direito em Salvador.

Ressalte-se que, enquanto estudante secundário e universitário marcou presença com militância política de esquerda. Formado em Direito, não deixou de se interessar pela Geografia, tanto que fez concurso para professor catedrático no Colégio Municipal de Ilhéus. Nesta cidade, além do magistério desenvolveu atividade jornalística, estreitando sua amizade com políticos de esquerda. Na mesma época, escreveu o livro “Zona do Cacau”, posteriormente incluído na Coleção Brasiliana, já com influência da Escola Regional francesa.

Em 1958, concluiu seu doutorado na Universidade de Strasbourg, na França. Ao regressar ao Brasil, criou e desenvolveu o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais, mantendo intercâmbio com os mestres franceses. Após seu doutorado, teve presença marcante na vida acadêmica, em atividades jornalísticas e políticas de Salvador. Em 1960, o presidente Jânio Quadros o nomeia para a subchefia do Gabinete Civil, tendo viajado a Cuba com a comitiva presidencial (isto lhe valeu registro nos órgãos de segurança, com desdobramentos após o golpe militar de 1964).

Em função de suas atividades políticas de esquerda, foi perseguido por seus adversários e pelos órgãos de repressão do regime militar. Logicamente, seus aliados e importantes políticos intervieram junto às autoridades militares para negociar sua saída do País, após um ano seguido de prisão domiciliar. Pensou o Professor Milton que sairia do País por seis meses. Acabou ficando 13 anos que não foram de “exílio dourado” em Paris; ao contrário, foram de périplo por diversos países.

Sua caminhada começa por Toulouse, passa por Bordeaux, por Paris, onde lecionou na Sorbonne, sendo diretor de pesquisas de planejamento urbano e regional no prestigiado L´Institute d´Étate du Développement Économique et Social (Iedes). Permaneceu em Paris de 1968 a 1971, quando seguiu para o Canadá, para trabalhar na Universidade de Toronto.

Milton Santos seguiu para os Estados Unidos e se tornou pesquisador afamado em Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde trabalhou com o famoso linguista e militante político de esquerda, Noam Chomsky. No MIT ele produziu sua grande obra “O Espaço Dividido”.

Dos EUA ele foi para Venezuela para trabalhar como diretor de pesquisa sobre planejamento da urbanização da Organização das Nações Unidas (ONU). Neste país manteve contato com técnicos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Estes contatos facilitaram sua contratação pela Faculdade de Engenharia de Lima, onde, também foi contratado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para elaborar um trabalho sobre pobreza urbana na América Latina.

Posteriormente, houve convite para lecionar no University College de Londres, mas ficou apenas na tentativa, já que impuseram dificuldades raciais no setor habitacional.
Regressou a Paris, é foi chamado de volta à Venezuela, onde lecionou na Faculdade de Economia da Universidade Central daquele país. Seguiu, posteriormente para a África (Tanzânia), onde organizou a pós-graduação em Geografia da Universidade de Dar-es-Salaam. Aí permaneceu por dois anos, quando recebeu o primeiro convite de universidade brasileira, a Universidade de Campinas. Antes disso, regressou à Venezuela, passando antes pela Columbia University de Nova Iorque.

Em fins de 1976, cogitou-se a contratação de Milton Santos por universidade brasileira, tentativa fracassada pela insegurança na área política. Em 1977, ele tentou inscrever-se na Universidade da Bahia, mas, por artimanhas político-administrativas, sua inscrição foi cancelada.

Ao regressar da Universidade de Colúmbia, Milton seguiria para a Nigéria, mas recusou o convite para aceitar um posto como Consultor de Planejamento do estado de São Paulo e na Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa).

Os anos de exílio, seus contatos com inumeráveis profissionais em diversos países, e, sobretudo sua capacidade de elaborar teorias, a partir de seus estudos por diversos campos do saber, impulsionaram seu notável esforço de escrever, de compor sua monumental obra.

A volta de Milton Santos ao Brasil – após anos de amargura e sofrimento que lhe foram impostos pela ditadura militar, em função de suas ideias – resultou de um enorme esforço de geógrafos brasileiros entre os quais destacam-se Armen Mamigonian e Maria Adélia de Souza. O fato ficou historicamente registrado no Congresso Nacional da Associação Brasileira de Geógrafos (AGB) em Fortaleza (CE), em 1978, oportunidade em que Milton Santos demonstrou um grande vigor no embate com os paladinos da geografia quantitativa. Realizou forte defesa de uma Geografia mais crítica, com abordagens da teoria marxista. Do evento, no Ceará, disseminaram-se as sementes da vigorosa mudança estrutural do ensino e da pesquisa da Geografia no Brasil.
A contratação de Milton Santos pela UnB, apesar dos pareceres favoráveis do Departamento de Geografia, do colegiado do Instituto de Ciências Humanas, foi impedida pelos órgãos de vigilância política da administração central.

As geógrafas Maria do Carmo Galvão e Bertha Becker intermediaram a contratação de Milton Santos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde ele permaneceu até 1983. Após esse período, foi contratado como Professor Titular pelo Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), onde permaneceu até a sua morte em 2001. Nessa Universidade desempenhou um papel importantíssimo na formação de mestres e doutores, não apenas de São Paulo, mas de todo o País e mesmo do exterior, pois, os geógrafos passaram a procurá-lo para obter orientação. É na capital paulista que se empenha em desenvolver suas teorias e, com elas, ampliar seu elenco de obras editadas e de artigos e conferências pronunciadas em todos os eventos importantes realizados no Brasil e no exterior.

Por seus méritos e intenso labutar, importantes universidades e instituições ligadas à Geografia outorgaram-lhe títulos acadêmicos e honrarias, sendo o mais importante o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, Paris, 1994, mais conhecido como o Prêmio Nobel da Geografia.

Entre as distinções recebidas por Milton Santos, destacam-se:

  • Mérito Tecnológico, Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, 1997;
  • Personalidade do Ano, Instituto dos Arquitetos do Brasil, 1997;
  • Jabuti, 1997, melhor livro da área de Ciências Humanas “A natureza do espaço – técnica e tempo, razão emoção”, São Paulo, Hucitec, 1996;
  • Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, 1995;
  • Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, em 1997;
  • Homem de Ideias 1998, Jornal do Brasil, em 1998;
  • 20 Cientistas do Século. Concurso nacional da Revista Isto É (Encarte Especial nº 7, de 04 de agosto de 1999.).

Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pelas seguintes instituições:

  • Universidade de Toulouse, França, 1980;
  • Universidade Federal da Bahia, 1986;
  • Universidade de Buenos Aires, 1992;
  • Universidade Complutense de Madri, 1994;
  • Universidade do Sudoeste da Bahia, 1995;
  • Universidade Federal de Sergipe, 1995;
  • Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1996;
  • Universidade Estadual do Ceará, 1996;
  • Universidade de Passo Fundo/RS, 1996;
  • Universidade de Barcelona, 1996;
  • Universidade Federal de Santa Catarina, 1996;
  • Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 1997;
  • Universidade Nacional de Cuyo, Argentina, 1997.
  • Universidade de Brasília, Brasília, 1999.

Além da intensa e produtiva vida acadêmica, Milton Santos desempenhou outras atividades, entre as quais:

  • Presidente ou membro de distinguidas entidades profissionais, como: Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Anpur); Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege).
  • Consultor de organismos como: Organização Internacional do Trabalho (OIT), Organização dos Estados Americanos (OEA), Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Secretaria da Educação Superior (SESu/MEC), Fundação de Ampara à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp/SP).

Milton Santos em Brasília

A presença de Milton Santos em Brasília, de acordo com Aldo Paviani, pode ser avaliada sob três vertentes. A primeira, em que ele, direta ou indiretamente, trata da Capital brasileira em suas obras, artigos, conferências. A segunda, por meio da colaboração com organismos federais: a) Subchefe da Casa Civil do Governo Jânio Quadros; b) membro da Comissão de Especialistas da Secretaria da Educação Superior (SeSu) do Ministério da Educação no projeto “Avaliação e diagnóstico do Ensino de Geografia no Brasil”; c) consultor do Ministério do Interior na área de Política Urbana). A terceira refere-se à sua marcante presença em reuniões, encontros, seminários e congressos em instituições de Brasília como a Universidade de Brasília (UnB) e a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).

Além da intensa e produtiva vida acadêmica, Milton Santos desempenhou outras atividades, entre as quais:

Presidente ou membro de distinguidas entidades profissionais, como: Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Anpur); Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege).
Consultor de organismos como: Organização Internacional do Trabalho (OIT), Organização dos Estados Americanos (OEA), Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Secretaria da Educação Superior (SESu/MEC), Fundação de Ampara à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp/SP).

Milton Santos e a ABMES

Milton Santos prestou valiosa colaboração à Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior em diversas oportunidades. Participou de encontros e seminários, e publicou, com o apoio da ABMES:

  • A América Latina entre dois séculos: modelos técnicos e modelos educativos. In: Desafios da educação no século XXI: integração regional, ciência e tecnologia. (Brasília: Abmes Editora. 1995). O artigo aborda a educação em todos os lugares, segundo diversos parâmetros e modos de percepção. Em um continente aberto como a América Latina, o fenômeno técnico ganha enorme relevo na produção do conhecimento porque atravessa todos os aspectos da vida. O seu lado prático aponta para as tarefas do cotidiano imediato, base material da vida. O seu lado filosófico tem que ver com as transformações possíveis a aponta para a construção do futuro. Cada país, a partir desses dois polos de interesse construirá ao mesmo tempo o modelos de nação desejada e o modelo de educação necessária. (Brasília: Abmes Editora. 1995)
  • “A técnica em nossos dias – a instrução e a educação”. (ABMES Cadernos n. 1, out. 1988). O trabalho contém um quadro esclarecedor sobre as técnicas no final do século XX e uma análise das associação ( e dos ganhos) da técnica com a ciência, responsável pela grande revolução tecnológica e pela instalação na atualidade da era da informação;
  • “O Ensino Superior público e particular e o território brasileiro”, em co-autoria com María Laura Silveira. Estudo que demonstrou como o território impõe sua lógica à dinâmica do ensino superior. As conclusões do trabalho envolvem as influências recíprocas da educação superior e do território; o jogo e as perspectivas da demanda e da oferta; a educação e a divisão do trabalho e os dilemas do ensino superior privado. (ABMES Editora. 2.000)

O Prêmio Milton Santos de Educação Superior

Para reverenciar a memória de Milton Santos, a ABMES instituiu, em 2004, o Prêmio Milton Santos de Educação Superior, como forma de reconhecer o mérito de personalidades que contribuem para o engrandecimento e aprimoramento da educação superior no Brasil.

Cinema: Milton Santos, o pensador do Brasil

A primeira exibição do documentário “Milton Santos, o pensador do Brasil” ocorreu no Festival de Cinema de Brasília, no dia 27 de novembro de 2006.
Sobre ele, diz Tendler: “a partir da Geografia, o Professor Milton Santos realiza uma leitura do mundo contemporâneo que revela as diversas faces do fenômeno da globalização. É na evidência das contradições e dos paradoxos, que constituem o cotidiano, que o geógrafo enxerga as possibilidades de construção de uma nova realidade. Ele inova quando propõe e aponta caminhos para uma outra globalização”.

O Documentário foi primeiramente para o circuito de cinema e depois comercializado em DVD. Clique aqui para saber mais sobre o DVD.

Site Oficial de Milton Santos

Às pessoas interessadas em conhecer mais detalhes sobre a vida e obra de Milton Santos, recomendamos uma consulta ao site oficial do mais importante intelectual brasileiro do século XX: http://miltonsantos.com.br/site/biografia/


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